Dourados no epicentro do coronavírus

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Renato Câmara (*)

A contratação de mais 44 leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) específicos para o atendimento de pacientes com Covid-19 em Dourados, publicada nesta semana no Diário Oficial do Município, me chamou atenção, pois tenho discutido e acompanhado de perto às ações estratégicas que devem ser implantadas para minimizar os efeitos da pandemia em Dourados, que atualmente é o epicentro da doença em Mato Grosso do Sul, conforme mostra os mais recentes números divulgados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde).

Desde o início da pandemia tenho buscado conhecer como ela funciona e o que outras nações e Estados, que já estão em uma etapa com maior número de casos, estão fazendo efetivamente e quais os resultados positivos alcançados. Em minha avaliação, que sempre é alicerçada pelas recomendações técnicas mundialmente preconizadas e preveem o cumprimento de um ciclo para a aplicação dos recursos públicos, estabelecendo o que vem primeiro e depois às ações secundárias que vêm logo em seguidas. Só após esgotar essas possibilidades, vem então a questão do tratamento.

Acredito que em Dourados também é preciso colocar em prática esse protocolo de ações sanitárias voltadas para o enfrentamento ao coronavírus, que prevê princípios básicos para o controle da pandemia: como disponibilização de equipamentos de proteção individual e testagem dos profissionais de saúde na tentativa de se estabelecer o diagnóstico precoce e o monitoramento dos agentes que atuam diretamente no combate a doença.

Neste sentido, a pergunta que faço é se o recomendável realmente seria priorizar a aplicação de investimentos em estrutura hospitalar (reserva de leitos), ao invés de voltar os esforços em medidas de prevenção para conter a transmissão da doença? Vejo essa reflexão como primordial antes da tomada de qualquer decisão por parte dos gestores públicos que atuam condução das políticas de enfrentamento ao coronavírus.

Em minha opinião, apenas depois de vencidas as etapas preventivas, se justificaria mudar o foco para ações voltadas para o tratamento. Em Dourados, tudo leva a crer que houve uma inversão deste protocolo.

Para se ter uma ideia,  em 1º abril, quando o município havia diagnosticado apenas seis casos de Covid-19, a administração municipal já estava contratando leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), tipo 2, no valor de R$ 1,5 milhões, junto a rede hospitalar privada, conforme mostrou o extrato de homologação do contrato 20/2020, disponibilizado também no Diário Oficial do Município. Esse tipo de contratualização coloca em xeque a ordem de prioridade de ações, é bastante questionável e, de certa forma, acaba colocando o carro na frente dos bois, como diz o ditado popular.

Enquanto leitos de UTI´s são reservados em hospitais particulares (a custos elevados) a espera do pico da Covid- 19, os profissionais de saúde que atuam na linha de frente de combate a doença ainda enfrentam a falta de equipamentos básicos de proteção individual e correm o risco de serem contaminados e de se tornarem potenciais transmissores do coronavírus.

Nesta semana, recebi o ofício Nº 23/2020 do Sindenf (Sindicato dos Enfermeiros da Grande Dourados) que relata toda a preocupação da categoria e o medo que permeia os profissionais devido à falta de equipamentos de proteção para o enfrentamento desta pandemia no Hospital da Vida e também nas unidades básicas de saúde, onde faltam insumos básicos como máscaras, luvas, algodão e aventais.

Também tive a acesso ao relatório da fiscalização feita pelo Coren/MS (Conselho Regional de Enfermagem) no Hospital da Vida no dia 2 de junho. O resultado do relatório é muito preocupante, já que Coren/MS concluiu que a organização da estrutura física do Hospital da Vida não está adequada para evitar a infecção por coronavírus em pacientes e profissionais que atuam na unidade. Também foi verificada a falta de materiais essenciais como: sistema de aspiração de fechado (trackcare), filtro HMEF para ventilação mecânica, luva de procedimento tamanho M e P, manômetro de válvula reguladora para torpedo móvel, termômetro infravermelho.

Em contrapartida, de abril até o momento, a Prefeitura de Dourados firmou três contratos com hospitais particulares para reserva de leitos de UTI para pacientes com coronavírus, que juntos preveem investimentos de quase R$ 5 milhões. Sabemos que a reserva destes leitos é uma importante estratégia de planejamento para um cenário de colapso no SUS, já que esses contratos só passam a ter efetividade em caso de esgotamento dos leitos oferecidos pelo sistema público.

No entanto, entendo que as estratégias de prevenção precisam ser priorizadas. Penso que somente, após superar todas essas possibilidades preventivas para frear o avanço da doença, justificaria ao município voltar suas atenções e os investimentos para o processo de recepção e tratamento dos pacientes acometidos pelo coronavírus, que é a etapa que demanda um aporte bem maior de recursos públicos para garantir respiradores e leitos hospitalares, inclusive de UTI, para os casos mais graves da doença.

Os contratos firmados com rede hospitalar para reserva de leitos correspondem a mais de 60% dos recursos repassados pelos governos federal e estadual para ações de combate a pandemia no município, que, segundo ofício encaminhado pela Secretaria Municipal de Saúde ao Conselho Municipal de Saúde, totalizavam quase R$ 8,7 milhões até o dia 20 de maio.

No entanto, mesmo diante deste quadro de agravamento da doença nos últimos 15 dias em Dourados (com aumento considerável dos casos de coronavírus), acredito que a situação ainda possa ser controlada e que o melhor caminho a ser seguido continua sendo o da prevenção, investindo no apoio e a manutenção das equipes de saúde e oferecendo melhores condições de trabalho, através da disponibilidade dos EPI’s (Equipamento de Proteção Individual), testes rápidos e capacitação continua aos profissionais que estão no combate a doença.

Como deputado estadual, tenho defendido Dourados e trabalhado de forma intensa, colocando nosso mandato como um ponto de apoio junto a Secretaria Estado de Saúde e ao Governo do Estado, buscando contribuir para que o município e a população possam superar essas dificuldades. Através do trabalho conjunto e de ações estratégicas, conseguiremos achatar a curva da doença e avançar nas medidas de proteção a vida e a economia.

(*) – É engenheiro agrônomo, mestre em gestão e produção agroindustrial. Exerce o segundo mandato de deputado estadual pelo MDB

 

 

 

 

 

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